Por Jucelene Oliveira
Você sabia que para cada suicídio que ocorre, um grupo de até 20 pessoas é impactado diretamente? Sim, esse número foi apontado após um estudo feito pelo CVV (Centro de Valorização da Vida).
“As pessoas que são impactadas são consideradas pessoas de risco porque são sobreviventes de um suicídio. Elas precisam de ajuda também porque costumam relatar sentimento de culpa por não ter percebido os sinais”, explicou Carlos Correia, voluntário do CVV em entrevista ao Bem Estar, do G1.
Para se ter ideia, no Brasil, todos os dias cerca de 32 pessoas dão fim a própria vida. O número corresponde a uma morte a cada 45 minutos. Isso significa que o suicídio mata mais brasileiros do que doenças como a AIDS e o câncer.
Entre as principais doenças relacionadas a essa prática está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias.
Além disso, segundo dados recolhidos em 2012 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos, sendo 75% destes indivíduos moradores de países de baixa e média renda. Atualmente, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos.
Cerca de 12 mil suicídios são registrados todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade e, em 96,8% dos casos há relação com transtornos mentais.
“Falar é a melhor solução” é o slogan da campanha, cujos envolvidos na sua organização acreditam que, conscientizando as pessoas, podem prevenir 9 em cada 10 situações de atos suicidas.
O Setembro Amarelo e sua origem
O Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criada em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), o CFM (Conselho Federal de Medicina) e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), com a proposta de associar à cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro). Neste ano, o tema é “Agir salva vidas”.
A ideia é pintar, iluminar e estampar o amarelo nas mais diversas resoluções, garantindo mais visibilidade à causa.
O Setembro Amarelo começou nos EUA, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994. Mike era um rapaz muito habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. Por conta disso, ficou conhecido como “Mustang Mike”. Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.
No dia do velório foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas. Dentro deles havia a mensagem “Se você precisar, peça ajuda.”. A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio.
Em consequência dessa triste história, o laço amarelo foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio.
Ao longo dos últimos anos, escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de uma forma geral se envolveram neste movimento que vai de norte a sul do Brasil.
Monumentos como o Cristo Redentor (RJ), o Congresso Nacional e o Palácio do Itamaray (DF), o Estádio Beira Rio (RS) e o Elevador Lacerda (BA), entre outros, participam da campanha.
Saiba como o Movieco ajudou pessoas que pensavam em suicídio
De acordo com Thel Oliveira, terapeuta de Reiki do Projeto Ecologia do Ser do Movieco, o Espaço Ecologia do Ser faz um trabalho de acolhimento com amor, ternura e carinho. Ela mesma se sentiu assim quando começou a trabalhar na ONG há dois anos.
“Amo trabalhar no Movieco. É um lugar com energia sem igual”, disse.
Sobre o tema suicídio, ela relata alguns casos que prestou atendimento. “Geralmente é um quadro de depressão, crise de ansiedade e pensamentos ruins sobre tirar a própria vida”. Além disso, compartilha o caso de um jovem de apenas 22 anos que fez um tratamento de Reiki com ela – e que, quando chegou à ONG, estava com essa ideia de morte, completamente fora de si.
Alguns pacientes passam em estado de emergência. Foi o caso dele. Morador do Jardim Belval, ele chegou ao Movieco e foi recepcionado pela Nicinha que fez o acolhimento inicial. Tentando deixar o paciente à vontade, ele contou que estava muito ruim, com pensamentos negativos sobre tirar a própria vida”, relembra.
Thel conta sobre o trabalho que realizou com o jovem.
“Nós conversamos muito. Ele falou sobre sua infância, que sempre foi muito mimado. Os pais lhe deram de tudo. E chegou em um momento em que ele se deparou numa roda de amigos que estavam formados, trabalhando, se relacionamento, e ele havia parado no tempo. Ele não trabalhou, não estudou, só usava roupas de marca dada pelos pais. Achava sua vida sem sentido. E logo começou a ter pensamentos sobre tirar a própria vida por causa desse quadro todo”, destaca.
A terapeuta relata que na primeira sessão de Reiki eles tivemos uma longa conversa, para tentar entender como esse paciente chegou nesse ponto tão crítico, de depender dos pais para tudo e não ver sentido na vida.
“Eu apliquei Reiki e ele chorou muito. Quando terminei o atendimento, ele já estava concentrado, mais calmo, com os olhos fechados, começou a perceber um pouco de luz no fim do túnel. Começou a sentir paz, afinal”.
Segundo ela, o tratamento ocorria uma vez por semana e durou cinco ou seis semanas.
“Hoje ele está bem melhor. Voltou a estudar. Terminou o colégio [mesmo atrasado] e já está fazendo um curso técnico para se profissionalizar e entrar no mercado de trabalho. Acredito que o tratamento o fez voltar a querer viver. Sinto-me muito feliz e aliviada que ele esteja bem agora”.
O caso desse jovem não é exclusivo ou isolado. A ONG já recebeu e tratou de outras situações envolvendo pessoas que pensavam em suicídio.
A também terapeuta de Reiki, Patrícia de Almeida, trabalha há mais de um ano e meio do Movieco e conta o caso de uma paciente que veio de outro estado, do Rio de Janeiro. Ela vivia um relacionamento abusivo, responsável por lhe encaminhar para um quadro de depressão com indícios de pensamentos suicida.
“Ela chegou em São Paulo e se casou, mas antes já vivia esse relacionamento abusivo há oito anos. Ela tomava antidepressivos fortes, mas não levava os tratamentos até o fim e isso, claro, sempre piorava seu quadro. É uma pedagoga de 58 anos que estava em frangalhos”, relembra.
A terapeuta relata que a paciente procurou o Movieco porque estava com pensamentos suicida e resolveu buscar ajuda antes que fosse tarde.
“Fiquei quase 3 horas conversando com ela… ela estava com as pupilas dilatadas. Naquele momento, eu a orientei que procurasse um Pronto Socorro. Posteriormente, ela foi atendida numa sessão de Reiki e Aromaterapia. Também fez Ayurveda e Yogaterapia. Hoje está bem, estável, feliz. Segue passando com psicólogo e psiquiatra e está tomando os remédios indicados. Hoje pode-se dizer que ela está bem”.
A terapeuta destaca algo interessante no trabalho realizado pelo Projeto Ecologia do Ser.
“Essa paciente me disse que foi muito bom encontrar a porta da ONG aberta [literalmente]. Que foi acolhida por nós e que isso fez diferença para ela reagir. Hoje ela está sorridente. Antes não conseguia sair da cama”.
Pensamentos negativos e problemas emocionais que podem indicar uma possível predisposição ao suicídio pode acontecer com pessoas de diferentes idades, classes sociais, profissão, histórico cultural etc.
Thel relata um outro caso em que prestou atendimento no Movieco.
“Essa moça chegou como emergência, foi atendida na recepção, ela só chorava. Eu fui chamada para atendê-la. Nós conversamos muito. Foi um trabalho de buscar como ela chegou naquele ponto. Ela estava com sua autoestima muito baixa. Um dia antes de vir para nossa sessão, ela tomou vários remédios e foi para a rua andar sozinha. Tomou bebida alcóolica sobre os remédios, caiu na rua e teve um corte fundo na testa. Quando chegou ao PS, foi medicada como alcoólatra e mandada para casa. Como ela faltou à sessão, eu liguei para saber o que havia ocorrido. Ela enviou uma foto em que estava com o rosto inchado da queda e do corte que sofreu. Voltou a receber Reiki nos dias seguintes. Seguiu com o tratamento e um tempo depois, voltou a dar suas aulas participares, retomar sua vida. Hoje está super bem”, emociona-se ao lembrar.
Patrícia também prestou atendimento para uma moça de apenas 18 anos que veio por meio do CAPS (Centro de Apoio Psicossocial).
“Ela se cortava, era depressiva. A família tentou várias coisas até chegar aqui [na ONG]. É uma família evangélica que faz Reiki conosco. Começou com a menina, mas depois de um tempo, a família viu a melhora dela e também se interessou pelo tratamento. A família conta que, mesmo quando ela entra em crise, é bem mais tranquilo do que antes”.
A jovem só ficava trancada dentro de casa. Não tinha amigos. Os sintomas hoje são bem tranquilos em comparação ao que ocorria antes.
“O Reiki ajudou no equilíbrio emocional dela. A cada um mês e meio ela volta aqui. Toda a família vem para o tratamento. Houve um tempo em que ela pensava em suicídio, como muitos jovens e adolescentes pensam. Hoje ela já consegue interagir com as pessoas, está muito melhor”.
“O Projetor Ecologia do Ser é um ponto de apoio para as pessoas com vulnerabilidade emocional. Preparamos cada cantinho do nosso simples espaço para acolher uma pessoa que necessite de apoio numa prática Integrativa adequada, e daí seguir em sua busca pelo retorno de sua verdadeira essência, do resgate da sua alma, da bênção da conexão com a natureza. As pessoas tratadas no espaço também se conectam conosco numa bela e energética egregora” explica Tânia Mara, Coordenadora da ONG.
Como ajudar alguém
Os familiares e amigos devem demonstra empatia a atenção por quem está sofrendo ou que apresente mudanças acentuadas e bruscas de comportamento. É preciso estar disposto a ouvir e, se não se sentir capaz de lidar com o problema apresentado, buscar ajuda ou orientação de quem possa fazê-lo mais adequadamente, como um médico, enfermeiro, psicólogo, líder religioso etc.
De acordo com os médicos, o ideal é que a pessoa seja encaminhada a um psiquiatra e seja medicada. E, no mundo ideal, que tenha o acompanhamento de um terapeuta e conte sempre com o apoio da família. Terapias alternativas, como Yoga, Reiki, Ayurveda etc podem ajudar muito também.
Outro fator importante a ser lembrado é que, caso a pessoa precise fazer uso de algum medicamento, ele não tem efeito imediato. Por isso, os primeiros 30 dias após uma tentativa de suicídio e o início do tratamento são os que precisam de mais atenção.
Na rede pública, a indicação é procurar os Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) do Sistema Único de Saúde (SUS). Por lá, é possível marcar uma consulta com um psiquiatra ou psicólogo. O Centro de Valorização da Vida (CVV), fundado em 1962 em São Paulo, faz um apoio emocional e preventivo do suicídio pelo número 188.
Apesar dos mitos envolvendo o tema, a prevenção ao suicídio avança. Na década de 1980, um estudo nos EUA afirmava que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. E esse trabalho reforçou a ideia de que “não podemos falar sobre o assunto”. Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da Saúde vai na direção contrária, dizendo que, sim, precisamos conversar sobre o suicídio.
Os especialistas na área alertam que “não é proibido falar, só não podemos falar de forma errada”. É errado ‘glamourizar’ ou tornar herói quem tirou a própria vida, assim como jamais se deve ensinar ou divulgar técnicas.
Há algo que eu possa fazer para ajudar?
Se você está se fazendo essa pergunta, a resposta é sim.
Podemos ficar atentos ao Isolamento de uma pessoa, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gostava, descuido com aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite. Frases como “preferia estar morto” ou “quero desaparecer” podem indicar necessidade de ajuda.
A ajuda pode vir de um amigo, parente, colega de trabalho ou escola, professores, ou alguém que está próximo a quem precisa e também dos voluntários do CVV, que são treinados para conversar com pessoas que estejam passando por alguma dificuldade e que possam pensar em tirar sua vida.
Para conversar com um voluntário, basta ligar para o telefone 188, gratuito, que funciona 24 horas. Também é possível mandar um e-mail ou falar pelo chat, que podem ser acessados pelo site www.cvv.org.br.
A CVV também produz vídeos, em parceria com a UNICEF, para divulgar a importância da Prevenção. Eles estão disponíveis e todos podem utilizá-los para ajudar quem precisa. Para conhecer o canal, clique aqui.
ATENÇÃO
Se você que leu este texto conhece alguém próximo que possa estar passando por este sério problema – e chegou a considerar o suicídio como opção – procure ajudá-lo entrando em contato com o Centro de Valorização à Vida (CVV). Esse é um projeto que fornece apoio emocional e prevenção do suicídio. O serviço é totalmente sigiloso.
Voluntários ficam à disposição 24 horas para oferecer atendimento pelo telefone 188 ou pelo chat online no site. O atendimento é anônimo e realizado por voluntários que guardam sigilo.
O site do CVV é www.cvv.org.br.
Fatores que podem aumentar o risco de ideias suicidas
A tentativa de suicídio pode acontecer entre pessoas de qualquer faixa etária, gênero ou classe social. Porém, alguns fatores podem ampliar o risco.
Um dos primeiros alertas é para pessoas que apresentam transtornos psiquiátricos. Em especial, quando se trata de depressão, transtorno bipolar, ansiedade e esquizofrenia. Casos de abuso de drogas e bebidas alcoólicas também merecem atenção.
Alguns estudos indicam também que há prevalência de tentativas de suicídio acima de 65 anos. Idosos podem sofrer com a solidão, sentimento de incapacidade e falta de perspectiva no futuro, levando a ideias suicidas.
Problemas financeiros também podem ser fatores de risco. Há ainda um certo grau de hereditariedade, que a ciência não conseguiu mensurar até o momento.
Como identificar alguém que precisa de ajuda e corre risco de suicídio?
Pessoas sob o risco de suicídio podem:
- apresentar comportamento retraído, dificuldades para se relacionar com família e amigos;
- ter casos de doenças psiquiátricas como: transtornos mentais, transtornos de humor (depressão, bipolaridade), transtornos de comportamento pelo uso de substâncias psicoativas (álcool e drogas), transtornos de personalidade, esquizofrenia e ansiedade generalizada;
- apresentar irritabilidade, pessimismo ou apatia;
- sofrer mudanças nos hábitos alimentares ou de sono.
- odiar-se, apresentar sentimento de culpa, sentir-se sem valor ou com vergonha por algo;
- ter um desejo súbito de concluir afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento;
- apresentar sentimentos de solidão, impotência e desesperança;
- escrever cartas de despedida;
- falar repentinamente sobre morte ou suicídio;
- apresentar um convívio social conturbado;
- ter doenças físicas crônicas, limitantes e dolorosas, doenças orgânicas incapacitantes como dores, lesões, epilepsia, câncer ou AIDS;
- apresentar personalidade impulsiva, agressiva ou humor instável.
O que leva a comportamentos suicidas?
Detectar comportamentos suicidas é muito importante para a prevenção. Eles são causados por situações que as pessoas encaram como devastadoras. Por exemplo:
- depressão ou transtorno bipolar;
- morte de uma pessoa querida;
- trauma emocional;
- desemprego ou problemas financeiros;
- algum membro da família que cometeu suicídio;
- histórico de negligência ou abuso na infância
- não aceitação do envelhecimento;
- término de relacionamentos;
- não aceitação da orientação sexual ou identidade de gênero;
- dependência de drogas ou álcool.
Se precisar, não hesite em buscar ajuda. Conte com o trabalho do Projeto Ecologia do Ser dentro do Movieco. As práticas integrativas e complementares são um apoio gratuito oferecido à comunidade de Barueri e região.
“Para nós, que lidamos com isso no trabalho, a gente fica muito feliz com o avanço do paciente, com a melhora que vem depois do tratamento. Fazemos isso com amor e carinho. Algumas vezes é bem difícil. Vimos uma quantidade muito maior de situações que envolve solidão, depressão e pensamentos suicidas neste momento de pandemia. Essa crise trouxe a morte em maior escala. E nós, profissionais da ONG, também nos cuidamos. Fazemos terapia um no outro para ter o equilíbrio energético necessário quando as coisas ficam mais difíceis”, finaliza Patrícia.
Fontes de pesquisa: Setembro Amarelo, Gntech, CVV, Vittude e Tjdft