Mobilização de jovens em mais de cem países mostra que geração atual não pretende simplesmente assistir às mudanças climáticas de braços cruzados – afinal, terá que conviver com os efeitos delas, opina Jens Thurau.
O que demandam os estudantes em greve pelo clima Milhares de jovens deixam as salas de aula e saem às ruas em um protesto global contra as mudanças climáticas. A DW conversou com manifestantes de vários países sobre suas demandas, esperanças e medos diante do futuro.
Movimento internacional contra mudanças climáticas chega ao Brasil
Chamando atenção para problemas locais, estudantes de várias cidades brasileiras se unem aos protestos do Fridays for Future, que deve reunir manifestantes em mais de cem países nesta sexta. (14.03.2019)
A estrela da luta pelo clima na Europa tem 16 anos
A menina sueca que um dia decidiu faltar aula para se sentar em frente ao Parlamento em protesto contra mudanças climáticas hoje inspira um movimento em vários países europeus. Na Alemanha, ela é recebida como pop-star.
O que é isso que vem ocorrendo toda sexta-feira em cidades alemãs e do mundo, quando jovens – alunos de escolas e estudantes universitários – abandonam salas de aula e saem às ruas em defesa do clima? Frequentemente isso ocorre com o consentimento dos pais e também das escolas, que aos poucos precisam avaliar como lidar com a seriedade que a jovem geração deposita nesse dia. Trata-se de uma politização passageira, que não deve ser levada a sério, como alguns políticos supõem? Ou há mais por trás disso tudo?
Em primeiro lugar, a enorme massa que simplesmente se uniu, impulsionada pela profunda seriedade e determinação da jovem sueca Greta Thunberg, que em meados do ano passado decidiu se sentar em frente ao prédio do Parlamento em Estocolmo em vez de ir à escola. É claro que o apelo de algo proibido desempenha um papel, assim como a perspectiva de algumas horas empolgantes fora dos muros da escola. Mas reduzir o movimento Fridays for Future a isso seria algo bastante arrogante.
Onde quer que se observem as manifestações de sexta-feira, a organização perfeita chama atenção – e ela parte dos próprios alunos. Grupos ambientalistas estabelecidos, como o Greenpeace, oferecem ajuda, e ela é aceita, mas os jovens não se deixam manipular. E com seriedade, seguram o espelho diante de nós, a geração dos pais, assim como fizeram todos os movimentos juvenis bem-sucedidos até hoje. Os estudantes de 1968 perguntaram onde seus pais estavam quando a Alemanha, indo contra todas as conquistas civilizatórias, mergulhou na barbárie profunda. O movimento pela paz no início dos anos 1980 se recusou terminantemente a seguir a lógica política da corrida armamentista.
E os jovens de hoje vivem muitas vezes numa sociedade extremamente voltada para o consumo, com seus pais, obcecados com a realização pessoal, servindo de modelo. No entanto, eles se dão conta de como as certezas e obrigações vêm diminuindo, de como famílias vêm se desfazendo. E de como é grande a contradição entre pretensão e realidade, especialmente a dos pais. É essa mesma geração de pais que em cada pesquisa de opinião reconhece como é importante proteger o clima, mas que gasta cada vez mais dinheiro com viagens de avião e com o modelo mais novo de SUV. E é por isso que a proteção climática é o tema ideal para os jovens de hoje.
O meio de protesto, a greve, poderia se transformar num problema. Na Alemanha, por exemplo, há a obrigação de frequentar a escola. Pais, professores e políticos não podem simplesmente ficar olhando quando Greta Thunberg e seus companheiros de luta anunciam que pretendem entrar em greve até que algo aconteça para proteger o clima. Mas eles podem mudar sua forma de protesto, o movimento não tem por que parar.
Desde a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento realizado no Rio de Janeiro em 1992, quando o multilateralismo ainda estava em vigor, a comunidade internacional vem tentando, com mais ou menos êxito, proteger o clima. Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore – representantes do mundo adulto estabelecido – receberam o Prêmio Nobel da Paz. Mas as emissões continuaram aumentando em ritmo acelerado.
Agora Greta Thunberg foi nomeada para o Nobel da Paz. Resta saber se isso fará alguma diferença para ela. O fato de a proteção do clima estar agora se transformando no assunto discutido pela geração jovem – que já não quer simplesmente tomar conhecimento da elevação do nível do mar e de temperaturas recordes e ficar com a consciência pesada, tal como fazem seus pais – não deveria surpreender: afinal, essa geração será a primeira que terá que conviver com os efeitos cada vez mais perceptíveis do aquecimento global.