Quarenta anos atrás, as autoridades brasileiras fizeram o primeiro contato com uma tribo de guerreiros indígenas chamados Uru-Eu-Wau-Wau nas florestas tropicais do estado de Rondônia.
Esse encontro foi o culminar de uma campanha de pacificação de anos da FUNAI, agência de assuntos indígenas do Brasil, para atrair a tribo da selva com presentes, como facas, machados, panos e espelhos.
As ramificações desse contato e a determinação da tribo em defender suas terras e tradições são agora o tema de um novo e poderoso documentário. Intitulado The Territory, ele foi lançado pela National Geographic Documentary Films em cinemas selecionados em 19 de agosto.
No início da década de 1980, a Rondônia vivia uma intensa convulsão social e ambiental. Isso foi em grande parte graças a uma rodovia recém-construída de 1.400 de quilômetros chamada BR-364, que estava trazendo uma torrente de forasteiros amontoados a bordo de ônibus e caminhões.
Eles vieram às dezenas de milhares, principalmente moradores da cidade empobrecidos e trabalhadores assalariados sem terra do sul e nordeste do Brasil, perseguindo a promessa de terra livre e um sonho de possuir seu próprio pedaço de paraíso.
Seguiu-se um ataque frontal à floresta tropical. Ramificando-se da BR-364, os colonos logo abriram estradas secundárias, depois terciárias, na selva enquanto ocupavam e desmatavam parcelas para dar lugar a lavouras e pastagens. À medida que os colonizadores adentravam a floresta, imagens de satélite revelaram um padrão de fragmentação que lembrava o esqueleto de um peixe, levando os ecologistas a cunhar o termo “estradas de espinha de peixe” para descrever a devastação ambiental de Rondônia.
A violência andou de mãos dadas com o nivelamento da floresta. Os colonos recém-chegados viram os povos indígenas cujas terras eles tomaram como um incômodo perigoso, melhor tratado pelo cano de uma arma.
Seguiu-se uma guerra crescente de balas voando em uma direção e flechas voando na outra, com resultados previsíveis. Houve relatos de ataques organizados de extermínio, de aldeias indígenas inteiras exterminadas. Tanto colonos quanto guerreiros indígenas sequestraram mulheres e crianças e realizaram assassinatos por vingança.
Nessa brecha entraram os agentes de campo da FUNAI, que buscaram “pacificar” os Uru-Eu-Wau-Wau e colocá-los em uma reserva protegida antes que fossem exterminados.
A corrida à terra de Rondônia e a longa campanha da FUNAI para contatar os Uru-Eu-Wau-Wau foram ricamente documentadas em dois artigos publicados na edição do centenário da National Geographic em dezembro de 1988.
Embora parte dos Uru-Eu-Wau-Wau tenha feito amizade a equipe da FUNAI até então, outros guerreiros ainda se mantinham no mato, recusando contato. Em determinado momento da cobertura do Geographic , arqueiros lançaram flechas no “posto de atração” da FUNAI, como eram chamadas as bases montadas para estabelecer contato com tribos isoladas. Uma dessas flechas perfurou o pulmão de um agente de campo, exigindo uma evacuação de emergência por helicóptero.
Os Uru-Eu-Wau-Wau foram os perdedores inquestionáveis desse conflito tragicamente enviesado. Enquanto a população de Rondônia cresceu impressionantes 15% ao ano durante as décadas de 1970 e 1980, as populações tribais despencaram.
Embora a violência cobrasse seu preço, as maiores ameaças eram, de longe, as doenças contagiosas importadas pelos colonos, entre elas a gripe e o sarampo, para as quais as populações nativas tinham pouca ou nenhuma defesa imunológica.
Em seu artigo de 1988, “Últimos Dias do Éden”, Loren MacIntyre relatou que a FUNAI colocou oficialmente o número estimado da tribo em 1.200. Mas suas observações pessoais, obtidas em voos de reconhecimento e expedições em terra, levaram MacIntyre a acreditar que o número real estava mais próximo de 350.
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