Pesquisas recentes revelam que a poluição das águas por substâncias químicas de uso humano, como ansiolíticos, está causando mudanças significativas no comportamento dos peixes. Além disso, compromete sua sobrevivência, impactando ecossistemas aquáticos.
Um estudo publicado na revista Science, conduzido por pesquisadores suecos, investigou os efeitos do ansiolítico clobazam e do analgésico tramadol no salmão-atlântico, espécie típica da Europa.
Utilizando implantes que liberavam lentamente essas substâncias em concentrações semelhantes às encontradas em ambientes poluídos, os cientistas observaram que, após um ano, os peixes migravam do rio para o mar em velocidade muito maior que o normal. Com isso, apresentavam comportamento social alterado, evitando cardumes, mesmo diante de predadores, o que reduz suas chances de sobrevivência.
Essa migração acelerada é preocupante porque interfere no ciclo migratório natural. Trata-se de ma adaptação biológica para garantir que os peixes migrem em momentos favoráveis, minimizando riscos de predação e aumentando a chance de reprodução.
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A exposição a ansiolíticos pode, portanto, levar a mortes prematuras e falhas reprodutivas, ameaçando a população dessas espécies. Além disso, a contaminação por medicamentos e outras substâncias, como cocaína e cafeína, tem sido detectada em rios e mares. Isso ocorre, inclusive, no Brasil, onde pesquisadores encontraram resíduos de cocaína em peixes do litoral paulista e do Rio de Janeiro. Trata-se do resultado do descarte inadequado e da passagem pelo esgoto doméstico.
O problema é agravado pelo fato de que as estações de tratamento de água não eliminam completamente esses compostos, que permanecem ativos nos ambientes aquáticos, acumulando-se na cadeia alimentar e podendo afetar também animais terrestres que se alimentam de peixes contaminados.
Estima-se que mais de mil substâncias farmacêuticas já foram detectadas em ambientes aquáticos ao redor do mundo, incluindo regiões remotas como a Antártida.
Os pesquisadores alertam para a urgência de políticas públicas e conscientização social para reduzir a poluição química das águas, enfatizando a necessidade de tratamento adequado dos resíduos e uso sustentável de medicamentos.
A poluição por ansiolíticos e outros fármacos representa uma ameaça grave e pouco visível à vida marinha, com consequências que podem se estender a toda a cadeia ecológica e à saúde humana.
Fonte: Tribuna de Minas