Texto: Jucelene Oliveira / Fotos: Movieco e outras cedidas por Ivan de Carvalho
A ONG Pilares, fundada em setembro de 2008 e voltada à assistência social e ao meio ambiente, já conhece o trabalho da ONG Movieco – Movimento Ecológico há pelo menos 8 anos. De lá para cá muitos trabalhos em parceria foram realizados para beneficiar pessoas que precisavam de algum tipo de assistência, sobretudo os povos indígenas.
Com a ajuda da comunidade de Barueri e de muitos participantes do Projeto Ecologia do Ser, no início de junho o Movieco promoveu uma campanha de solidariedade e cerca de 300 quilos entre alimentos e roupas foram arrecadados e repassados à ONG Pilares para beneficiar a Aldeia Indígena Brilho do Sol, população guarani, moradora de Riacho Grande (Parelheiros), São Bernardo do Campo, em SP.
O acesso até a ilha da aldeia é feito por meio de uma balsa na represa Billings, e para se chegar até lá os indígenas utilizam uma voadeira, embarcação movida a motor com estrutura e casco de metal, já que não existe acesso por via terrestre.
Segundo Ivan Vieira de Carvalho, presidente da ONG Pilares, na região existem 7 aldeias, mas esta especificamente é a que está mais afastada, mais isolada em relação à margem da represa Billings. Ele conta que ficou surpreso com a quantidade de doações e muito feliz em mais uma vez poder contar com o apoio do Movieco.
“Mantive contato com a Tânia [Coordenadora da ONG Movieco] e expliquei que neste momento em razão da entrada do inverno, a população da Aldeia Brilho do Sol estava muito necessitada de cobertores e roupas para crianças. Com a ajuda da Tânia e das pessoas que frequentam a ONG, conseguimos arrecadar muita coisa para os indígenas. Eu fiz duas viagens para poder levar tudo”, explica.
Alimentos, cobertores, roupas para crianças entre outras coisas. Segundo Lídia, cacique da tribo e também professora responsável pela alfabetização dos indígenas para a língua portuguesa, todos no local foram beneficiados.
“Agradeço muito a todos que doaram e nos ajudaram. Precisávamos muito de cobertores e roupas para crianças pequenas e conseguimos tudo. Aqui é muito frio porque estamos cercados pela mata. Agradeço o trabalho das ONG Pilares e do Movieco”, relata.
Não apenas neste momento de pandemia pelo qual estamos passando, mas principalmente em razão dele, é muito importante não deixar de lado a prática de boas obras que podem ser manifestas na doação de alimentos, roupas e materiais de saúde e higiene aos que mais precisam.
Segundo Ivan relatou, até o momento não foi detectado nenhum caso de Covid-19 na Aldeia Brilho do Sol.
“Nas aldeias próximas foram identificados 250 casos, mas como esta fica mais afastada, ainda não há registro de nenhum caso. Também tomamos todo cuidado na hora de levar as doações para não ter contato direto com ninguém lá”, conta.
Respeito aos povos indígenas
Vale destacar que o trabalho do Movieco com os povos indígenas já ocorre há muito tempo.
Em 2010, por exemplo, o Movieco iniciou o Projeto de Intercâmbio Cultural na Tribo Indígena do Krukutu – APA (localizada às margens da represa Billings, em São Paulo), sendo esta a segunda maior aldeia da Terra Indígena, com cerca de 500 habitantes, e uma das mais antigas da região.
Tanto a Krukutu, como a Tenonde Porã (aldeia da Barragem), tiveram suas pequenas áreas regularizadas em 1987, após décadas de luta, e confirmaram as duas únicas opções de habitação no Território Indígena até 2013, começando a reocupar o território tradicional em relatório publicado pela Funai.
Há na aldeia estruturas importantes como Posto de Saúde, Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI) e uma Escola Estadual Indígena. Na ocasião, a visita contou com um grupo formado por estudantes, donas de casa e crianças de Barueri. O Movieco também trouxe Pajés para rodas de conversa em seu núcleo de educação ambiental, e em escolas da comunidade local. Tudo para valorizar e disseminar o conhecimento ancestral que esses povos têm a oferecer.
“Nós utilizamos muito do conhecimento ancestral dos povos indígenas, ainda que muitos não saibam disso”, explica Tânia Mara, Coordenadora da ONG. Segundo ela, todo sistema de saúde tradicional atualmente aplicado às práticas integrativas e complementares que fazem parte do Projeto Ecologia do Ser, vem também desse conhecimento indígena de séculos.
“Reiki xamânico, pedras, fitoterapia, conhecimento nativo, assim como a Terapia da Constelação Familiar. Precisamos valorizar nossa ancestralidade. Devemos ser agradecidos aos povos indígenas, dar todo merecimento a eles”, diz. Ela também demonstra preocupação em relações às condições de vida e cultura que eles têm perdido nesse chamado processo “civilizatório”.
“A sociedade atual trata mal esses povos, eles têm perdido suas terras, suas florestas têm sido queimadas, rios envenenados pelo garimpo, entre outros males isso ocorre em todos os biomas: Amazônico, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampas e aqui na Mata Atlântica, região metropolitana de São Paulo, pertinho de nós. Acredito que seja uma obrigação ética, uma obrigação do Movieco trazer isso à tona. Respeitá-los e honrá-los da maneira que merecem”, explica.
O Movieco é signatário e multiplicador da Carta da Terra, ferramenta ecopedagógica, além de ser um importante tratado construído por povos do mundo inteiro, o qual está prestes a completar 20 anos de existência.
Além de cursos e oficinas presenciais e on-line gratuitos, o Movieco sente-se orgulhoso de realizar esse trabalho assistencialista que contempla povos indígenas e sua cultura. E aqui deixamos o convite para que todos passem a valorizar a cultura e o conhecimento que esses povos têm a nos oferecer.
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