Pesquisadores do BioInsecta e BioDossel investigam os insetos da Amazônia do solo ao dossel, com coleta estratificada e sequenciamento genético para revelar espécies desconhecidas.
Do solo até o alto das árvores, os insetos amazônicos exibem uma profusão de formas, cores e modos de vida, que os cientistas só agora começam a descrever de maneira detalhada.
No alto de uma torre de 40 metros na Reserva ZF-2, próxima a Manaus (AM), o biólogo Dalton Amorim observa a paisagem com admiração. “O que vemos aqui é de tal beleza e complexidade que explode o coração. Temos 360 graus de floresta primária pura e uma riqueza brutal e linda, difícil de explicar para quem não pode vir aqui.”
Amorim, professor da USP, coordena o BioInsecta, um megaprojeto dedicado à biodiversidade dos insetos na Amazônia. Assim, em parceria com o BioDossel, liderado pelo professor José Albertino Rafael, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Juntos, os projetos trabalham com centenas de milhares de espécimes para identificação e descrição de novas espécies.
Estima-se que entre 90% e 98% da fauna de insetos da Amazônia ainda seja desconhecida, conforme estudos publicados em 2022. Além disso, mais de 60% da biodiversidade desses insetos vive no dossel da floresta, entre 8 e 30 metros de altura, uma área antes pouco explorada.
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Metodologias inovadoras
Nesse sentido, graças a metodologias inovadoras, as coletas ocorrem em diferentes alturas – 8, 16, 24 e 32 metros – com armadilhas suspensas nos galhos de árvores emergentes que chegam até 60 metros.
“As armadilhas ficam suspensas em intervalos padronizados, de sete em sete metros, até os 28 metros, altura média do dossel na Amazônia Central”, explica Rafael.
Por conseguinte, esses coletores capturam centenas de milhares de insetos que são preservados em álcool absoluto para análises de DNA. Miriam Silva Rafael, pesquisadora do Inpa, destaca que o sequenciamento em massa está previsto para analisar cerca de 320 mil espécimes em até três anos, usando métodos eficientes de código de barras genético.
Os dados obtidos serão fundamentais para apoiar pesquisadores, ecólogos, engenheiros florestais e cientistas da conservação na tomada de decisões para a proteção da Amazônia. “Os insetos são cruciais para a dinâmica da floresta, mas a maioria das espécies e sua distribuição, especialmente no alto das árvores, permanece desconhecida”, acrescenta Francisco Felipe Xavier Filho, técnico do Inpa.
Por fim, este trabalho inovador consolida avanços científicos importantes. Além disso, permite extrapolar resultados para toda a Amazônia e sensibilizar órgãos financiadores para ampliar as coletas em outras regiões.
“A Amazônia é imensa”, lembra Amorim, reforçando a urgência desse tipo de pesquisa para compreender e preservar a riqueza ambiental do maior bioma do planeta.
Imagem destaque: Vista do alto d torre ZF-2, na reserva do INPA em Manaus. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Fonte: Jornal da USP





