Agricultura familiar é destaque na COP30 e deve integrar agenda climática permanente, diz Paulo Petersen

Na COP30, a agricultura familiar ganha destaque como solução crucial contra as mudanças climáticas. Paulo Petersen reforça que agroecologia deve ser base da transformação.

A agricultura familiar teve papel de destaque inédito na COP30, realizada em Belém (PA). Assim, Paulo Petersen, enviado especial da área, reforça que o setor é essencial para enfrentar as mudanças climáticas. Ele integra a Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e a Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).

O presidente Lula pediu, na abertura da COP, a criação de um plano de descarbonização da economia. Este plano é ligado aos sistemas alimentares industrializados, os maiores emissores de gases de efeito estufa no Brasil. Conforme o Observatório do Clima, o agronegócio responde por 74% dessas emissões.

Petersen destaca que a agricultura familiar baseada na agroecologia ajuda a reduzir essas emissões. Além disso, a atividade possui capacidade para adaptar toda a cadeia alimentar às novas condições climáticas. “É fundamental que a agricultura familiar permaneça na agenda climática, pois ela é base da transformação social, cultural e econômica”, afirma.

Do mesmo modo, ele acrescenta que essa transição oferece respostas rápidas à emergência climática, diferente das mudanças em energia e transporte, que demandam mais tempo. Relocalizar os sistemas alimentares traz resultados imediatos benéficos ao clima, à biodiversidade e à saúde coletiva. Ainda gera empregos e renda, combatendo desigualdades sociais.

Durante a COP, a agricultura familiar foi tema tanto na zona verde, com diálogo entre governos e organizações, quanto na zona azul, onde ocorreram as negociações oficiais. Segundo Petersen, nunca antes a agricultura e a alimentação tiveram tanta evidência em uma Conferência das Partes.

Contudo, houve críticas à Agrizone, espaço patrocinado por corporações empresariais e criado pela Embrapa para debater agricultura. Para o enviado, esse financiamento compromete o caráter público do debate e pode representar greenwashing. A ANA defende que a Embrapa mantenha sua autonomia e papel essencial na transição agroecológica.

Movimentos populares, povos tradicionais e campesinato

Em Belém estiveram presentes movimentos populares, povos tradicionais e o campesinato, que levaram suas demandas. Paulo Petersen atua para amplificar essas vozes e compartilhar propostas vindas do Brasil e do mundo. Movimentos como Via Campesina e Fórum Rural Mundial participaram ativamente.

Propostas recentes reforçam a importância de reconhecer os agricultores como produtores de conhecimento. A ciência precisa abrir diálogo com as experiências populares locais, superando modelos impostos por corporações, segundo Petersen.

Apesar do avanço limitado, ele aponta as barreiras estruturais no país para a agroecologia, como o ambiente institucional moldado para favorecer o agronegócio, e não as famílias rurais em transição. O mercado alimentar está dominado por grandes redes varejistas ligadas aos ultraprocessados.

Petersen defende que a transição agroecológica dos sistemas alimentares precisa ocorrer em territórios. Isso inclui reforma agrária popular, redução de agrotóxicos e planos nacionais de segurança alimentar bem financiados. Esses passos deveriam direcionar os recursos do Plano Clima para a agricultura e alimentação.

Nesse sentido, Silvio Porto, da Conab, corrobora que o avanço da agroecologia enfrenta tensões graves, como concentração fundiária, conflitos agrários e uso excessivo de agrotóxicos e transgênicos.

Neste mês, a campanha “Agricultura Familiar e Agroecologia na COP” foi lançada por várias redes para destacar o protagonismo do setor na agenda climática. O movimento alerta contra soluções corporativas que mantêm o sistema causador da crise.

A agroecologia aparece como proposta de democratização dos sistemas alimentares, focada nos territórios, na diversidade e nas pessoas. A agricultura familiar também é promotora de justiça climática, envolvendo povos indígenas, quilombolas e pescadores artesanais.

Por fim, a campanha convida a conhecer o manifesto público e o mapeamento “Justiça Climática e Agroecologia”, além de participar da mobilização nas redes sociais.

Fonte: Brasil de Fato
Imagem de destaque: Ação marca mobilizações do movimento rumo à Cúpula dos Povos e COP-30| Crédito: Jerê Santos/MST

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