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As feiras agroecológicas no Brasil têm se destacado como espaços que vão muito além da simples comercialização de alimentos saudáveis, configurando-se como importantes núcleos de interação social, troca de saberes e promoção de práticas sustentáveis.
Um estudo de revisão publicado recentemente analisou 28 pesquisas científicas brasileiras, divulgadas entre 2020 e 2025, para compreender o papel dessas feiras no fortalecimento de sistemas alimentares sustentáveis e seu impacto socioambiental. Para conferir o artigo, clique aqui.
Essas feiras são verdadeiros territórios vivos, marcados por processos de resistência política, fortalecimento da agricultura familiar e práticas solidárias. Elas impulsionam o consumo consciente e a produção livre de agrotóxicos, contribuindo diretamente para a segurança alimentar e nutricional das comunidades locais.
Ademais, reforçam vínculos comunitários, resgatam tradições culturais e promovem a autonomia produtiva de mulheres e jovens, criando espaços importantes de participação social e cultural.
Outro aspecto relevante é que as feiras agroecológicas atuam como arenas de experimentação social e construção coletiva de alternativas ao modelo agroindustrial dominante, que historicamente provoca degradação ambiental e exclusão socioeconômica. Ao promoverem circuitos curtos de comercialização, eliminando intermediários, elas favorecem a valorização da economia local, a sustentabilidade econômica das famílias produtoras e a democratização do acesso a alimentos frescos e nutritivos.
No entanto, a pesquisa também aponta desafios para a consolidação dessas feiras, como a necessidade de aprofundamento teórico, maior diversidade metodológica nas investigações e ampliação das regiões estudadas, especialmente Norte e Centro-Oeste do Brasil, que ainda são pouco contempladas. Apesar disso, as feiras permanecem como espaços essenciais para a transição socioecológica no país, contribuindo para a construção de sistemas alimentares mais justos, resilientes e enraizados nas realidades locais.
Assim, as feiras agroecológicas despontam como mecanismos estratégicos para fortalecer a agricultura familiar, promover a justiça socioambiental e garantir a soberania alimentar, mobilizando mulheres, jovens e comunidades em torno de um projeto coletivo de sustentabilidade e transformação social. Elas evidenciam a importância de uma agroecologia que conjuga ciência, movimento social e prática cotidiana em prol de um futuro mais sustentável para o Brasil.
Este panorama demonstra que investir e ampliar o apoio a essas iniciativas pode ser decisivo para enfrentar as crises sanitária, ambiental e alimentar que marcam a atualidade no país.
A continuidade e o fortalecimento das feiras agroecológicas representam, portanto, um caminho promissor para promover alimentação saudável, desenvolvimento local e preservação ambiental no Brasil.
Destaque de alguns trechos do artigo
“As feiras agroecológicas, conforme percebidas na literatura, não são só espaços de comercialização, mas funcionam como ambientes vivos que favorecem processos de transformação em várias esferas da vida comunitária”.
“As seis categorias analíticas identificadas ao longo da revisão — sustentabilidade socioambiental; segurança alimentar e nutricional; circuitos curtos de comercialização; gênero e juventude; territorialização e políticas públicas; e participação social e cultura —, mostram-se profundamente interconectadas. Essa interdependência indica que os efeitos das feiras não se restringem a um único campo, e os campos não operam isoladamente, mas se entrelaçam para consolidar as feiras como dispositivos estratégicos.”
“As feiras agroecológicas se configuram como movimento legítimo de investigação acadêmica e interpelam as universidades e os institutos de pesquisa a se engajarem com as transformações em curso nos territórios. Elas convocam pesquisadores e instituições a construírem vínculos mais estreitos com os sujeitos que protagonizam essas experiências, contribuindo para processos de aprendizagem recíproca e para a produção de conhecimentos socialmente implicados.”
“Ao reconhecer o potencial dessas experiências na reconstrução de relações mais justas com o território e com a vida, este trabalho reafirma a importância de uma ciência comprometida com a transformação social e com o fortalecimento de alternativas que já estão sendo construídas nas margens, por meio da ação coletiva e da esperança.”
Artigo completo aqui.