Organizações civis cobram reavaliação de glifosato, atrazina e alacloro; Brasil bate recordes em consumo e aprovações de venenos agrícolas.
Três entidades da sociedade civil pressionam a Anvisa por mudanças urgentes. Elas entregaram ofício formal em 15 de dezembro de 2025. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Fiocruz e Idec pedem suspensão imediata de glifosato, atrazina e alacloro.
O principal gatilho foi uma fraude revelada pelo jornal britânico The Guardian. Estudo de 2000, base para regulações globais, escondeu participação de funcionários da Monsanto, fabricante do glifosato. Publicado na Regulatory Toxicology and Pharmacology, o texto influenciou decisões por duas décadas.
O editor-chefe, Martin van den Berg, declarou: “A falta de clareza cria incerteza sobre a integridade das conclusões”. No Brasil, esse estudo subsidiu parecer técnico da Anvisa em 2016 e Nota Técnica nº 12/2020. Isso culminou na RDC nº 441, de 2 de dezembro de 2020, mantendo o glifosato sem restrições cancerígenas.
Além disso, em 21 de novembro de 2025, especialistas internacionais em saúde classificaram atrazina e alacloro como “prováveis causadores de câncer em humanos”. Atrazina, o 6º agrotóxico mais vendido no país, comercializou 22.765 toneladas em 2024.
Portanto, as entidades exigem reavaliação completa com participação social e técnica. Elas cobram suspensão temporária até novos laudos.
Nesse contexto, o Ibama divulgou recorde de consumo em 18 de dezembro. Em 2024, o Brasil vendeu 908 mil toneladas de ingredientes ativos, alta de 20,13% sobre 755 mil toneladas de 2023. Foram 7.358 relatórios de 288 empresas e 6.100 marcas.
Glifosato liderou com 231,9 mil toneladas, apesar de leve queda. Mancozebe subiu para segundo lugar com forte crescimento. Dados são autodeclaratórios e sujeitos a revisões.
Dos 10 mais vendidos, 6 são proibidos na União Europeia desde anos variados: mancozebe (2021), acefato (2003), clorotalonil (2019), atrazina (2009), glufosinato (2018) e s-metolacloro (2013).
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Sindiveg reforça a tendência: 1,665 milhão de toneladas de produtos formulados em 2024, alta de 17%. Faturamento estável em US$ 20 bilhões (R$ 110 bilhões), mas empresas deixaram de recolher R$ 25,8 bilhões em impostos até fevereiro de 2025.
Paralelamente, 2025 bateu recorde de liberações. Foram 725 novos agrotóxicos de fevereiro a dezembro, 10% a mais que 663 em 2024, segundo levantamento do Brasil de Fato.
Jaqueline Andrade, assessora jurídica da Terra de Direitos, alerta: “Mais água contaminada, alimentos envenenados e intoxicações agudas ou crônicas”. Ela defende o Pronara, Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, lançado em julho de 2025 pelo governo federal.
Em resumo, o Brasil precisa frear essa escalada para proteger saúde e meio ambiente.
Fonte: Brasil de Fato





