O termo ‘biodiversidade’ foi cunhado a partir da expressão ‘diversidade biológica’, mas transcendeu o seu significado original. No começo da década de 1980, ‘diversidade biológica’ era sinônimo de riqueza de espécies; em 1982, o termo adquiriu o sentido de diversidade genética e riqueza de espécies e, por fim, em 1986, com a contração da expressão, expandiu-se para abrigar além da diversidade genética e da diversidade de espécies, a diversidade ecológica. Em 1986, no 1º Fórum Americano sobre diversidade biológica, organizado pelo Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA (National Research Council, NRC), Wilson, substitui a expressão “Diversidade Biológica” por “Biodiversidade”, e sua publicação1 contribuiu para sua popularidade, sendo adotada com rapidez e sua presença no campo científico cresceu de forma quase contínua2, além de ser incorporada por ambientalistas, líderes políticos e cidadãos no mundo todo.
Assim, é costume adotar-se2 a diversidade dentro de espécies, abrange toda a variação entre indivíduos de uma população, bem com entre populações espacialmente distintas da mesma espécie. Na prática, essa diversidade tem sido tratada como equivalente à diversidade genética, embora possa incluir diversidade morfológica, de comportamento, etc, sem ater-se estritamente à base genética de tais diferenças.
A diversidade entre espécies, por sua vez, corresponde ao que se chama de diversidade de espécies: a variedade de espécies existente em algum tipo de ambiente ou em uma região definida.A diversidade de ecossistemas é mais ambígua que as outras duas categorias na Convenção da Diversidade Biológica (CDB). Ecossistemas são essencialmente sistemas funcionais, caracterizados por sua dinâmica. Porém, usar a dinâmica com base para avaliar, inventariar ou monitorar a diversidade de ecossistemas, é pouco praticável, embora não impossível.
De todo modo, em termos práticos, a diversidade de ecossistemas tem sido tratada como correlacionada com a diversidade de fisionomias de vegetação, de paisagem ou de biomas, mas isso não resolve por completo a questão.Biodiversidade e suas definiçõesA Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), popularmente conhecida como a Convenção da Biodiversidade, define o termo ‘diversidade biológica’, em seu segundo artigo, como a “variabilidade entre organismos vivos de todas as origens compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.”
Apesar das controvérsias em torno dessa definição, a CDB consolidou uma forma de ver a biodiversidade e contribuiu para introjetá-la na pauta política de seus mais de 180 países signatários.No começo da década de 1990, vários pesquisadores foram entrevistados por David Takacs, que, entre outros resultados, compilou uma série de definições do termo “biodiversidade”3. Nessas definições é possível identificar, pelo menos, duas grandes correntes: a que aposta na diversidade de espécies e a que considera os processos biológicos, de alguma forma, como parte da biodiversidade. Seguem alguns exemplos:
“A variedade de populações geneticamente distintas e espécies de plantas, animais e microorganismos com os quais o homem compartilha a terra e a variedade de ecossistemas dos quais eles são partes integrantes”.
Paul Ehrlich, 1992.“Biodiversidade é o número total de linhagens genéticas na terra”. Thomas Eisner, 1992.“Biodiversidade é a soma das espécies da terra incluindo todas suas interações e variações com seu ambiente biótico e abiótico no espaço e no tempo”. Terry Erwin, 1991“A dimensão da diferença nos múltiplos níveis de organização biológica, considerando todas as diferentes entidades e todos os diferentes processos”. Donald Falk, 1992.“Total de genes, populações, espécies e o conjunto de interações que eles manifestam”. Daniel Janzen, 1992.“Variação, variabilidade ou variedade de organismos vivos, o que inclui variação intraespecífica e os níveis de comunidades, ecossistemas e paisagens”. K.C. Kim, 1992.“Diversidade de todos os níveis de organização”. Thomas Lovejoy, 1992“A diversidade biótica total indicada como o número de espécies e a diversidade genética que abrangem”. S.J. McNaughton, 1992.“Variedade da vida e seus processos”. Reed Noss, 1992. “Diversidade de espécies que existem num determinado ecossistema”. David Pimentel, 1992.“A soma total de plantas, animais, fungos e microorganismos no mundo, incluindo sua diversidade genética e o envolvimento de todos em comunidades e ecossistemas”. Peter Raven, 1992.“É a vida em todas suas dimensões, riqueza e manifestações, não apenas no nível de indivíduos e espécies, mas também no nível de agregações, comunidades, etc.” Michael Soulé, 1992.“Variedade da vida ao longo de todos os níveis de organização, desde diversidade gênica em populações, diversidade de espécies, que devem ser encaradas como a unidade pivotal de classificação, até diversidade de ecossistemas”. Edward O. Wilson, 1992.
Os sistemas biológicos não se resumem apenas na mera presença dos organismos, seu funcionamento depende dos tipos e das combinações entre os organismos presentes.Por causa disso, há quem tenha proposto4 que a biodiversidade possui três componentes fundamentais através dos quais pode ser aferida: a composição, a estrutura e a função. A composição diz respeito a que elementos consistem a unidade biológica; a estrutura, como eles se organizam fisicamente, e a função versa sobre que processos ecológicos ou evolutivos mantém ou são produzidos pela unidade biológica considerada.Assim, a biodiversidade abarca os processos que geram e mantêm as espécies, a variabilidade genética, a diversidade de populações e comunidades, a multiplicidade de ecossistemas e paisagens, bem como todas suas relações com o meio físico e entre si.
Além do número de espécies, outros aspectos da biodiversidade podem ser representados pelo número de níveis tróficos presentes, o número de guildas, a variedade de ciclos de vida e a diversidade de recursos biológicos, devendo ser considerados quando busca-se uma caracterização ecológica e ambiental. Algumas espécies podem desempenhar um papel importante para a riqueza total de espécies, tais como árvores, polinizadores, simbiontes mutualistas, patógenos reguladores da população e agentes de controle biológico com efeitos sobre a biodiversidade local.Assim, mostra-se sensato o argumento de cientistas e pesquisadores de que a conservação de genes, espécies e comunidades não é suficiente para manter todos os fenômenos biológicos desejados, pois alguns resultam, por exemplo, das interações únicas entre determinados componentes dos sistemas.
Araquém Alcântara – www.terrabrasilimagens.com.br
ReferênciasWILSON, E.O.;PETER, F.A. 1988. Biodiversity. Washington, DC: National Academy Press. 521 p.LEWINSOHN, T. M. e PRADO, P. I. K. L.. “Síntese do Conhecimento Atual da Biodiversidade Brasileira’. In:LEWINSOHN, T. M. Avaliação do Conhecimento da Biodiversidade Brasileira. Ministério do Meio Ambiente – MMA, Brasília. 2006. Vol. 1. 269p.TAKACS, D. 1996. The idea of biodiversity. The John Hopkins University Press, Londres.NOSS, R. “Indicators for monitoring biodiversity: a hierarchical approach”. Conservation Biology. Vol. 4 p 355 – 364. 1990.