Por Jucelene Oliveira
Quem vive no estado de São Paulo e, sobretudo na capital paulista, sabe bem como é estar sempre cercado de altos e sinuosos prédios comerciais, asfalto, trânsito caótico e muito barulho. Isso acontece todos os dias no vai-e-vem de pessoas e trabalhadores que circulam pelos bairros do maior centro comercial do Brasil.
Não por acaso, a falta de planejamento urbano que ocorre há décadas se reflete no atual cenário de degradação das cidades, tornando cada vez mais evidente a necessidade de reflexão sobre como alcançar o equilíbrio entre o espaço modificado para o assentamento urbano e as áreas naturais.
Com tantos prédios e muros, as árvores sofrem para dar sua luz. É nesse contexto que as áreas verdes urbanas, como os parques e as praças, assumem um importante papel como indicadoras na avaliação não só da qualidade de vida da população, mas principalmente da qualidade ambiental.
Os benefícios das áreas verdes urbanas são diversos e vão muito além da valorização visual e ornamental de um espaço. Elas possuem a importante função de reduzir efeitos da poluição e dos ruídos, agem diretamente na redução da temperatura e na velocidade dos ventos, além de influenciarem no balanço hídrico. Ainda podem servir de abrigo a diversos animais silvestres que vivem nas cidades, como pássaros, insetos e até macacos.
Também são essas áreas verdes que combatem o temido microclima urbano que, favorecido pelas estruturas e elementos da cidade (asfalto, edificações, concreto, amianto, vidro e metal) com elevada capacidade refletora, geram as “ilhas de calor”, responsáveis pelo aumento de chuvas de grande intensidade e, consequentemente, de inundações.
Olhando para a história, as árvores são consideradas especiais ou sagradas em várias culturas. As árvores da vida, da imortalidade, do conhecimento, da compreensão do bem e do mal, são símbolos comumente utilizados pelas culturas antigas. O poder vegetal de crescimento e frutificação e os benefícios concedidos aos homens, como a sombra, a madeira e os frutos, impulsionaram a imaginação humana.
Podemos encontrar diversos exemplos de árvores na Bíblia Hebraica e nas culturas adjacentes do Oriente Próximo, mas merecem destaque as árvores centrais do Jardim do Éden: a Árvore da Vida e a Árvore do Conhecimento. A árvore sagrada pode proporcionar, além da dádiva da vida ou do conhecimento, rejuvenescimento, virtude, fertilidade, conexão de mundos, abrigo para deuses, entre muitos outros usos em rituais e mitologias antigos.
Os serviços que as árvores prestam ao planeta variam do armazenamento de carbono e conservação do solo até a regulação do ciclo da água. Elas apoiam os sistemas alimentares naturais e humanos e fornecem casas para inúmeras espécies – inclusive para nós, como materiais de construção.
No entanto, geralmente tratamos as árvores como descartáveis: algo a ser colhido para ganho econômico ou como um inconveniente no caminho do desenvolvimento humano.
Um mundo mais quente
As árvores também geram um efeito de resfriamento localizado. Fornecem sombra que mantém a temperatura do solo e absorvem o calor em vez de refleti-lo. Também canalizam energia da radiação solar para converter água líquida em vapor. Com todos esses serviços perdidos, a maioria dos lugares onde havia árvores anteriormente ficaria imediatamente mais quente.
Em estudo realizado por Jayme Prevedello, ecologista da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, ele e seus colegas descobriram que a remoção completa de um trecho de floresta de 25 km² faz com que as temperaturas anuais locais aumentem em pelo menos 2°C em áreas tropicais e 1°C nas temperadas. Os pesquisadores também descobriram diferenças de temperatura semelhantes, ao comparar áreas abertas e com florestas.
Em escala global, as árvores combatem o aquecimento causado pelas mudanças climáticas, armazenando carbono em seus troncos e removendo dióxido de carbono da atmosfera.
O desmatamento já respondia por 13% do total das emissões globais de carbono, de acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em agosto de 2019, enquanto a mudança no uso da terra em geral era responsável por 23% das emissões.
Com todas as árvores destruídas, os ecossistemas anteriormente florestados “se tornariam apenas uma fonte de emissão de dióxido de carbono na atmosfera, em vez de um dreno”, diz Paolo D’Odorico, professor de Ciências Ambientais da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.
Você já ouviu falar sobre banho de floresta?
Para quem não conhece o termo, banho de floresta é uma prática oriunda da cultura japonesa, que tem como intuito promover a cura e o bem-estar através do contato com as plantas. Pode ser entendido como um hábito (“lifestyle”) que melhora consideravelmente a qualidade de vida das pessoas.
Embora simples, o hábito de estar em contato com a natureza é uma prática muito saudável, que traz muitos benefícios ao corpo e à mente. O “banho de floresta” ou “shinrin-yoku” é muito comum no Japão e os efeitos terapêuticos do hábito prometem reduzir o estresse e até prevenir doenças, além de melhorar o sistema imunológico por aumentar a atividade das células NK (natural killlers ou exterminadoras naturais), que atuam na defesa do organismo de células tumorais e infecções.
Todos esses efeitos foram revelados no estudo de pesquisadores japoneses da Universidade de Chiba e da Escola Médica Nippon, em Tóquio.
A pesquisa japonesa constatou que caminhar próximo às árvores e sentir a brisa bater no rosto de fato possui grande eficiência para o bem-estar das pessoas.
Os estudantes analisaram os níveis da pressão arterial, frequência cardíaca e do cortisol (hormônio do estresse) de pessoas que passaram 30 minutos do dia na cidade e compararam com os indivíduos que puderam passar esse mesmo tempo na floresta:
“Ambientes florestais promovem menores concentrações de cortisol, menor frequência cardíaca, pressão arterial, maior atividade do nervo parassimpático e a atividade do nervo inferior simpático do que ambientes da cidade“, divulgou o estudo concluindo os benefícios da natureza para a saúde humana.
Segundo a naturóloga Gabriela Jaccoud, a ideia do banho de floresta não é exatamente realizar uma atividade física de impacto visando o emagrecimento ou fortalecimento dos músculos, mas uma atividade relaxante para desfrutar os benefícios da natureza.
Por que caminhar próximo à natureza pode trazer benefícios para a saúde?
“Os praticantes do Forest Bathing fazem uma caminhada leve para explorar sensorialmente a natureza e desfrutar de suas vantagens: pausa no contato com ruídos estressantes (que dá lugar a sons suaves), inalação de ar puro, interação com o verde e demais elementos da natureza. Um aspecto interessante é o de que o aroma das florestas é algo mais do que simplesmente um estímulo fresco e agradável ao olfato. As moléculas voláteis liberadas por algumas plantas constituem os chamados óleos essenciais, que apresentam ação benéfica à nossa saúde.
Segundo o médico japonês Qing-Li, autor dos livros “Shinrin-yoku: A arte japonesa da terapia da floresta” e “Forest Bathing: How trees can help you find health and happiness”, entre outros, o simples ato de adotar como hábito a visita a parques ou caminhadas regulares em áreas verdes é suficiente para você sentir os benefícios no corpo e na mente.
Em seus estudos, Qing-Li lista que o banho de floresta reduz a produção de cortisol (hormônio causador do estresse), diminui a pressão arterial, além dos sintomas de ansiedade, fadiga e irritação. A prática ainda aumenta o sistema imunológico e melhora o sono – em cerca de 15% após uma caminhada de duas horas na floresta.
A importância das árvores para nossa qualidade de vida (e do planeta)
Segundo artigo publicado no Blog Engenharia de Magia, as árvores são essenciais, tanto para o meio-ambiente quanto para a existência humana. Caso elas não existissem, os seguintes fatores ocorreriam:
– Extinção de biodiversidade
– Aquecimento do planeta (as árvores ajudam no resfriamento da superfície através de sua sombra)
– Aumento da pobreza para pessoas que dependem das florestas para sobrevivência
– Prejuízos a saúde, pois as árvores ajudam a remover as impurezas do ar
– Impacto cultural
– Redução de chuvas
– Erosão do solo
10 Benefícios das árvores para as cidades e pessoas:
– Absorvem o gás carbônico (CO2) e liberam oxigênio
– Aumentam a biodiversidade
– Diminuem os efeitos das ilhas de calor urbano
– Absorvem a água da chuva, diminuindo os riscos de enchentes
– Embelezam a cidade
– Oferecem sombra e diminuem a temperatura das cidades
– Diminuem a poluição sonora das cidades
– Diminuem a poluição, pois ajudam a filtram o ar
– Diminuem o nível de estresse das pessoas
– Enfim, melhoram a qualidade do ar das cidades e a qualidade de vida das pessoas
Futuro das árvores e novas tecnologias
Ainda está sendo estudada uma possibilidade de geração de energia elétrica através das árvores. Pesquisadores da China, Itália e Japão estão desenvolvendo a utilização do efeito triboéletrico na folhagem das plantas. Tal fenômeno ocorre quando certos materiais são atritados e depois separados, gerando energia elétrica.
Ou seja, as folhas carregadas positivamente descarregam energia quando entram em contato com o tronco ou com outro material carregado. Logo, técnicas dentro da Engenharia Genética são utilizadas para este aproveitamento da energia. Porém, há uma questão da ética em relação ao uso ou não da árvore como fonte de energia.
Além da árvore natural, temos as árvores solares e as árvores eólicas.
As árvores solares são miniusinas de energia solar, cuja estrutura é similar a de uma árvore. Tal objetivo é aumentar a eficiência energética gerada pela energia do sol. As árvores eólicas são árvores que utilizam da brisa do vento para a geração de energia elétrica. Logo, elas conseguem gerar energia com velocidades de ventos abaixo das torres eólicas convencionais. Em outras palavras, tais árvores artificiais são inspiradas nas árvores reais.
Logo, as árvores inspiram ideias no cenário energético, mesmo sendo reais ou não. Até mesmo ajudam na construção de um cenário energético com pouco desmatamento, graças a sua importância na natureza.
Quer ajudar a preservar uma área verde urbana próxima de você?
– Ajude a manter a área limpa e isenta de sujeiras;
– Evite o acúmulo de entulhos e resíduos de construção nas proximidades;
– Respeite a fauna local, ela pode ser responsável por dispersar sementes;
– Não alimente animais nessas áreas;
– Cuide da flora local, mas procure conhecê-la melhor antes para saber suas necessidades específicas.
Também é possível ajudar comunicando a Prefeitura da sua cidade quando houver a necessidade de:
– Podas;
– Extração de árvores;
– Plantio de novas árvores para substituir as que forem extraídas, dando preferência às espécies nativas;
– Prevenção e tratamento de pragas e outras doenças;
– Recolhimento de entulhos.
Projeto Via Verde
O Movieco também atuou para aumentar a quantidade de florestas na cidade de Barueri e região com o projeto Via Verde, cujo objetivo foi a recuperação de uma área degradada no centro da cidade. O incentivo ao plantio de nativas na região, compreendida pela sub-bacia hidrográfica do Alto Tietê – trecho Pinheiros/Pirapora, com a construção de um viveiro, foi a realização do projeto.
Para isso, foi i instalado um viveiro no Centro de Barueri na porção até então pertencente ao Círculo Militar da Guarnição de Osasco e Barueri.
Foram produzidas 60.000 mudas de 80 espécies nativas da Mata Atlântica. Desse total, metade foi plantada em 4 alqueires e a outra metade doada para Itapevi, Santana de Parnaíba e Barueri.
Para saber mais sobre o Projeto Via Verde, clique aqui.
“Infelizmente, após a conclusão do projeto a ONG foi obrigada a desinstalar o viveiro, não recebendo apoio local para permanecer na área“, explica Tânia Mara, Coordenadora do Movieco. “A mentalidade das autoridades em Barueri objetiva o chamado progresso, sem aprofundar na grande necessidade de manter áreas de florestas nativas do bioma Mata Atlântica”, concluiu.
Emergência Climática
A Deputada Estadual, Marina Helou, que também é Coordenadora da Frente Parlamentar Ambientalista de SP, compartilhou em suas redes que o último relatório do IPCC, divulgado em julho, mostrou que a humanidade não avançou no controle das emissões e que a Terra continua esquentando.
Ela ressaltou que todos devem fazer a sua parte e que mudanças de hábitos e comportamentos individuais contam muito para combater este cenário.
“Mas precisamos de ações coordenadas, coletivas e de grande impacto. E quem tem a capacidade e a responsabilidade quanto a isso são os governos e as empresas. Um grande exemplo vem da Europa, que estabeleceu a proibição de produção e comercialização de veículos movidos a combustíveis fósseis a partir de 2035. É um avanço, mas precisamos de mais, muito mais”, destacou.
Desde o Acordo de Paris, no final de 2015, pouco se avançou efetivamente em ações e políticas restaurativas, regenerativas e colaborativas. Ela ressaltou “Precisamos cobrar resultados efetivos! E isso serve para o estado de São Paulo, também!”
Em 2019, a Frente Parlamentar Ambientalista de SP promoveu seminário sobre os 10 anos da Política Estadual de Mudanças Climáticas, na ocasião a sociedade civil apresentou uma série de contribuições e sugestões para atualização da lei.
Dois anos depois, o Governo Estadual deu início à elaboração do Plano de Ação Climática – instrumento importante, mas que deve, obrigatoriamente, ser construído de forma participativa!
Para entender mais sobre o tema, acesse os conteúdos disponíveis na Biblioteca Ecológica do Movieco, no assunto “Carta da Terra”. Clique aqui.
Fontes: informações obtidas nos sites BBC News, Portal de Educação Ambiental do Governo Federal, Oazen, blog Unicamp, SustentArqui, O minuto