Com R$ 2,4 milhões investidos, Fiocruz e parceiros transformam saberes indígenas em medicamento contra cálculos urinários, rumo à aprovação da Anvisa em até dois anos.
Os saberes tradicionais de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares estão impulsionando um marco na saúde pública brasileira. Em cerca de seis meses, o país terá o primeiro fitoterápico industrializado à base de quebra-pedra (Phyllanthus niruri). Trata-se de uma planta usada há gerações no tratamento de distúrbios urinários, especialmente litíase urinária — a formação de cálculos no trato urinário.
A iniciativa pioneira coloca o conhecimento tradicional no centro da inovação científica. Além disso, respeita a legislação de acesso a esses saberes, garantindo repartição justa de benefícios.
O medicamento, desenvolvido para integração ao Sistema Único de Saúde (SUS), resulta de uma parceria estratégica entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — via Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) — e o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).
Nesse sentido, um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre Farmanguinhos e o MMA estimula pesquisas com a biodiversidade brasileira. “Quando o conhecimento tradicional é tratado como tecnologia, com consentimento prévio e repartição de benefícios, a inovação ganha propósito”, afirma Carina Pimenta, secretária nacional de Bioeconomia do MMA. Ela destaca que a parceria viabiliza o primeiro fitoterápico de laboratório público em conformidade com as normas da Anvisa, unindo ciência, território e saúde pública.
Leia também:
– Marcha Global pelo Clima reúne 70 mil pessoas em Belém e clama por justiça climática
– Brasil lidera fundo inovador para proteger florestas tropicais com grande apoio na COP30
Uso sustentável da biodiversidade
O investimento de R$ 2,4 milhões, do projeto Fitoterápicos do PNUD — financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e coordenado pelo MMA —, cobre adequação de maquinário, compra de equipamentos, insumos, serviços, visitas técnicas e estudos laboratoriais.
Para Priscila Ferraz, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, o avanço trata distúrbios urinários com acesso seguro à população, promovendo uso sustentável da biodiversidade e fortalecendo a indústria nacional.
Por conseguinte, Silvia Santos, diretora de Farmanguinhos, reforça o papel das parcerias: “Transformamos pesquisas em plantas medicinais em medicamentos para o SUS, com qualidade, eficácia e segurança.”
A pesquisadora Maria Behrens, responsável pelos estudos, explica que o fitoterápico inova ao atuar em todas as fases da litíase urinária — algo inédito no mercado.
“Padronização industrial evita riscos de preparações caseiras, como adulterações ou baixo teor de ativos, que comprometem eficácia ou causam efeitos indesejados”, diz ela.
Após lotes-piloto, virão estudos de estabilidade para submissão à Anvisa. A expectativa é fornecer ao SUS em até dois anos, impulsionando a cadeia produtiva sustentável, da matéria-prima ao produto final, alinhada à Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
Por fim, Gabriel Fávero, assessor técnico do PNUD, celebra o precedente para acordos com guardiões do patrimônio genético, como indígenas e agricultores, abrindo portas para a indústria farmacêutica.
Fonte: O Povo





