A encíclica do meio ambiente, "Laudato Si (Bendito Seja), Sobre os Cuidados com Nosso Lar Comum", documento escrito pelo Para Francisco e divulgado nesta quarta-feira (17) numa audiência geral no Vaticano, coloca o clima no centro das preocupações do pontífice.Nas 192 páginas, o Papa estabelece um elo entre os pobres do mundo e a fragilidade do planeta, acusando o homem de ser o principal responsável pelo aquecimento do planeta (logo abaixo, confira vídeo bem humorada sobre o Papa e a encíclica)."A relação íntima entre os pobres e a fragilidade do planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia, a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descartável e a proposta de um novo estilo de vida são os eixos desta encíclica, inspirada na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis", lê-se no Parágrafo 16º do documento papal.O Papa também diz temer que o controle pela água por parte das grandes empresas mundiais termine por provocar uma guerra. Em um dos trechos do documento ele escreveu que "é previsível que o controle da água por parte de grandes empresas mundiais se converta em uma das principais fontes de conflitos deste século”.O documento condena duramente os países mais ricos que resistem em adotar medidas para reduzir as emissões de carbono. Ele pede por uma "ação decisiva, aqui e agora" para deter a degradação ambiental e o aquecimento global, diretamente apoiando cientistas que dizem ser provocado principalmente pela ação humana.“Há uma dívida ecológica do Norte para com o Sul”. O Pontífice diz também que “há uma dívida ecológica” dos países do Norte com os do Sul e criticou a segregação espacial.“Nalguns lugares, rurais e urbanos, a privatização dos espaços tornou difícil o acesso dos cidadãos a áreas de especial beleza; noutros, criaram-se áreas residenciais ‘ecológicas’ postas à disposição só de poucos, procurando-se evitar que outros entrem a perturbar uma tranquilidade artificial”.“A desigualdade não afeta apenas os indivíduos mas países inteiros e obriga a pensar numa ética das relações internacionais. Com efeito, há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul, ligada a desequilíbrios comerciais com consequências no âmbito ecológico e com o uso desproporcionado dos recursos naturais efetuado historicamente por alguns países”, prossegue a encíclica papal, apontando também o dedo à “exportação de resíduos sólidos e líquidos tóxicos para os países em vias de desenvolvimento” ou para a “atividade poluente de empresas que fazem nos países menos desenvolvidos aquilo que não podem fazer nos países que lhes dão o capital.”Abaixo, lista com os 20 principais pontos da encíclica:1 - O papa pede "mudanças profundas" nos estilos de vida, nos modelos de produção e consumo e estruturas de poder.2 - Critica "a rejeição dos poderosos" e "a falta de interesse dos demais" pelo meio ambiente.3 - Afirma que a Terra "parece se transformar cada vez mais em um imenso depósito de lixo".4 - O papa pede para "limitar ao máximo o uso de recursos não renováveis, moderar o consumo, maximizar a eficiência do aproveitamento, reutilizar e reciclar".5 - Se refere a "uma indiferença geral diante do trágico aumento de migrantes fugindo da miséria, piorada pela degradação ambiental".6 - Critica a privatização de água, um direito "humano básico, fundamental e universal que determina a sobrevivência das pessoas".7 - Assegura que "os mais graves efeitos de todas as agressões ambientais são sofridos pelo povo mais pobre" e fala de "uma verdadeira dívida ecológica" entre o Norte e o Sul".8 - Se refere ao "fracasso" das cúpulas mundiais sobre meio ambiente, nas quais "o interesse econômico prevalece sobre o bem comum".9 - Aponta para o "poder conectado com as finanças" como o responsável de não prevenir e resolver as causas que originam novos conflitos.10 - O papa acredita que é necessário "recuperar os valores e os grandes fins arrasados por um desenfreamento megalômano".11 - "Quando não se reconhece (...) o valor de um pobre, de um embrião humano, de uma pessoa com incapacidade, dificilmente se escutarão os gritos da própria natureza".12 - Para o papa, "é uma prioridade o acesso ao trabalho por parte de todos".13 - Entende que "às vezes pode ser necessário colocar limites a quem têm maiores recursos e poder financeiro".14 - Pede que as comunidades aborígines se transformem "nos principais interlocutores" do diálogo sobre meio ambiente.15 Critica a "lentidão" da política e das empresas, que situa "longe de estarem à altura dos desafios mundiais".16 - O papa acredita que a "salvação dos bancos a todo custo (...) só poderá gerar novas crises".17 - Critica que a crise financeira de 2007-2008 não tenha criado uma nova regulação que "levasse a repensar os critérios obsoletos que continuam regendo o mundo".18 - Assegura que as empresas "se desesperam com o lucro econômico" e os políticos "por conservar ou acrescentar o poder" e não para preservar o meio ambiente e cuidar dos mais frágeis.19 - Acredita que a solução requer "educação na responsabilidade ambiental, na escola, na família, os meios de comunicação, na catequese".20 - O papa encoraja os cristãos a "ser protetores da obra de Deus porque é parte essencial de uma existência virtuosa". DOWNLOADS Enc do Papa sobre Meio Ambiente