Há 20 anos, movimentos ecológicos, pacifistas, humanistas e espirituais indicavam a existência de sintomas socioambientais reveladores, que nas palavras do filósofo francês Edgar Morin, poderia ser entendido como uma espécie de “agonia planetária”. A partir disso, registraram os caminhos para a superação da crise, expressos em um documento chamado Carta da Terra, lançado na Rio 92. Essa Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad), realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, marcou a forma como a humanidade encarava sua relação com o planeta. Os temas abordados giraram em torno de problemas ambientais e do desenvolvimento sustentável. Foi naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza. Esse evento foi um marco para alertar sobre a conscientização ambiental em todos os países do mundo. Um dos primeiros passos para sinalizar sobre os problemas da degradação ambiental ocorreu em Estocolmo (Suécia) em 16 de junho de 1972 (20 anos antes) e foi chamado de Conferência de Estocolmo, a qual foi considerada a primeira conferência mundial sobre o meio ambiente. Na reunião de 1992 — que ficou conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra, estavam presentes figuras importantes de diversos países, de Chefes de Estado, a Ministros e outras personalidades dos países membros. Na ocasião, os países reconheceram o conceito de desenvolvimento sustentável, assim como a Agenda 21, sintetizada em ODS, e atualizada em Agenda 2030. Desde então, estão sendo discutidas propostas para que o progresso se dê em harmonia com a natureza, garantindo a qualidade de vida tanto para a geração atual quanto para as futuras. Na Rio-92 ficou acordado que os países em desenvolvimento deveriam receber apoio financeiro e tecnológico para alcançarem outro modelo de desenvolvimento que fosse sustentável, inclusive com a redução dos padrões de consumo — especialmente de combustíveis fósseis (petróleo e carvão mineral). “Nesta Conferência chegou-se à conclusão de que temos de agregar os componentes econômicos, ambientais e sociais. Se isso não for feito, não há como se garantir a sustentabilidade do desenvolvimento”, analisou Luiz Alberto Figueiredo Machado, coordenador-geral da Conferência Rio+20. Esta ocorreu em junho de 2012, também no Rio de Janeiro, e teve como objetivo discutir sobre a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável. E sobre a Carta da Terra, o que mudou 20 anos depois? Na Conferência Eco-92 ficaram estabelecidos 27 princípios básicos sobre o desenvolvimento sustentável global. Para conhecê-los, clique aqui. “A Carta da Terra parte de uma visão integradora e holística. Considera a pobreza, a degradação ambiental, a injustiça social, os conflitos étnicos, a paz, a democracia, a ética e a crise espiritual como problemas interdependentes que demandam soluções includentes. Ela representa um grito de urgência face às ameaças que pesam sobre a biosfera e o projeto planetário humano. Significa também um libelo (exposição inicial) em favor da esperança de um futuro comum da Terra e Humanidade.”, disse Leonardo Boff, Teólogo e Presidente de Honra do CDDH. A Carta da Terra representa um documento proposto na Eco-92 que foi ratificado apenas em 2000. Focado nas questões ambientais, sobretudo em melhores condições de vida no planeta, seus princípios básicos são: I. Respeitar e cuidar da comunidade da vidaII. Integridade ecológicaIII. Justiça social e econômicaIV. Democracia, não violência e paz O Movieco – Movimento Ecológico é signatário e multiplicador da Carta da Terra, ferramenta ecopedagógica, além de ser um importante tratado construído por povos do mundo inteiro. Em 2000, a carta foi consolidada com a adesão de mais de 4.500 organizações de todo o mundo. Ela completou 20 anos no último dia 29 de junho e ainda é atual, emblemática e desafiadora, sobretudo nos tempos difíceis em que vivemos. Segundo Pedro Ivo de Souza, Coordenador da ONG Associação Alternativa Terrazul e da Teia da Carta da Terra Brasil, em texto publicado no jornal Correio Braziliense, o atual modelo de desenvolvimento, além das externalidades conhecidas como o aquecimento global, a destruição dos oceanos e demais ecossitemas, que trazem desequilíbrio e sofrimento para todas as formas de vida, é fonte de crescente desigualdade social decorrente da concentração de renda. Na segunda-feira, 29 de junho, personalidades socioambientalistas nacionais e internacionais se unirão no Festival da Carta da Terra, no YouTube, para lembrar que há um futuro pós-crise e que todos nós temos que nos responsabilizar por ele. Maria Paula fez a abertura do evento on-line compartilhando uma palavra sobre respeito e apoio emitida pelo Papa Francisco a todos os povos. Em seguida, Caetano Veloso compartilhou com sua voz e violão a música “Terra”. Durante o evento, várias autoridades, artistas, representantes e ativistas do meio ambiente compartilharam suas visões e experiências. “Vale lembrar que nos anos 2000, o mundo estava entrando em um novo século e também em novo milênio. O sentido da Carta da Terra pode ser entendido como cartográfico, como um mapa, o local para onde queremos chegar”, disse Mirian Vilela, Diretora Executiva da Secretaria da Carta da Terra Internacional. De acordo com Tânia Mara, Coordenadora do Movieco – Movimento Ecológico, a Carta da Terra é um impostante instrumento eco pedagógico de conscientização. "A humanidade está vivendo um momento muito preocupante, que necessita de uma clareza de pensamento das pessoas, assim como um compromisso que se traduza em ação cotidiana", diz. Ela orgulha-se de utilizar os princípios da Carta da Terra nas atividades propostas e realizadas pela ONG, já que isso é uma maneira efetiva de colocá-la em prática e ao mesmo tempo disseminá-la à comunidade. "Nós, do Movieco, temos nosso estatuto embasado na Carta da Terra. Trabalhamos com seus mais nobres princípios, com educação ambiental e educação para promoção da saúde. Sabemos que o atendimento social com práticas integrativas eleva a boa relação com a natureza e também gera maior qualidade de vida. Porém, ainda é pouco. Precisamos de mais gente nessas ações individuais ou dentro de movimentos. Deixo aqui o convite para que mais pessoas venham participar conosco", finaliza. Para conhecer o documento CARTA DA TERRA, acesse aqui. Também desenvolvemos uma cartilha infantil ilustrada para ensinar sobre a Carta da Terra. Ela se chama AGENDA 21 ESCOLAR, ideal para que as crianças possam conhecer e entender, de maneira fácil, como podem construir um mundo melhor. Para ter acesso, clique aqui. Agenda 21 Assinado por 179 países na Eco-92, a Agenda 21 representa um importante passo para a construção de uma sociedade sustentável. Os principais temas explorados pelo documento são: - desenvolvimento sustentável;- meio ambiente;- ecossistemas;- desflorestamento;- desertificação;- pobreza;- consumo;- saúde;- educação;- conscientização;- biodiversidade;- e recursos naturais. Para conhecer a AGENDA 21, clique aqui. No menu BIBLIOTECA ECOLÓGICA é possível conferir uma série de documentos para conhecer bem as questões ambientais e sociais que norteiam o trabalho do Movieco. Para saber mais, clique aqui. Greta Thunberg, a sueca adolescente que tem chamado a atenção do mundo para as questões ambientais No final de setembro de 2019, o Brasil entrou na mira da ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos. O Brasil e mais quatro nações (França, Alemanha, Argentina e Turquia), foi acusado de não fazer o suficiente para combater o aquecimento global. A jovem apresentou uma queixa formal à ONU (Organização das Nações Unidas) - mais especificamente ao Comitê dos Direitos da Criança. A denúncia foi feita em conjunto com outros 15 jovens ativistas (de 8 a 17 anos) e o documento pede que os países criem medidas para proteger as crianças dos efeitos da crise climática. A estudante tem ganhado notoriedade ao ocupar um lugar cativo em assembleias e encontros globais sobre o clima e, principalmente, por fazer discursos incisivos a líderes internacionais, entre eles Donald Trump (Estados Unidos) e Jair Bolsonaro. "Todo esforço para dar voz às dores do meio ambiente são muito válidas. A postura da Greta lança um olhar para a região amazônica, para as questões climáticas, e chama a atenção aos povos indígenas. Ela é meio que a líder desse movimento global, expoente na área ambiental", diz Tânia Mara. Com informações de Toda Matéria, Revista Super Interessante, Correio Braziliense e Movieco